Eu, viajante, escritor

/
0 Comments


Eu sempre imaginei histórias, e sempre dei meu jeito de registrá-las, mesmo que na minha mente. Como um viajante, sempre me permiti ir a outros mundos, fui um desbravador e até hoje continuo sendo.



Enquanto todos os meus amigos se divertiam com jogos, brincavam, namoravam, por algum motivo eu sabia que aquilo era pouco pra mim. O mundo sempre foi pouco pra mim, e talvez por isso me veio a necessidade de conhecer outros universos, me transportar pra eles, viver de várias maneiras e em várias situações.



Por vezes esse processo foi doloroso, triste, solitário… Eu queria que as pessoas vissem os mundos que estavam ao redor delas; Elas queriam que eu saísse do mundo da lua.



“Pare de inventar mundos e viva no seu!”



Elas nunca entenderam que eu nunca inventei nada! Os mundos em que vivi sempre existiram, eu apenas descobria e registrava tudo. Livros não são invenções, são mapas dos infinitos mundos do imaginário. Eu queria que as pessoas soubessem, mas elas estavam atadas a um universo físico.



Enquanto eu viajava pela extensão dos meus sonhos, as pessoas próximas a mim diziam que eu estava louco. Me sentia lúcido… Lúdico. Não era uma questão de como eu me sentia, mas como os outros me viam.



“Seja normal! Seja como seu irmão! Seja como os outros!”



Comecei a me contestar. Por que eu não era normal? Por que viver, viajar, imaginar não seria normal? As perguntas começaram a consumir a minha mente… E eu já não era mais louco, nem estranho. Agora eu era normal e infeliz.



Tranquei todas as portas dos mundos, me amarrei nas cordas do físico e disse pra mim mesmo que estava na hora de crescer. O mundo nunca foi terra para crianças, tão pouco para viajantes ou loucos. Eu era os três, mas tive que deixar de ser.



Nessa luta entre loucura e normalidade, a infelicidade foi me tomando a um ponto que não suportava mais. Me senti fraco, controlado, aquilo não era eu. Todos estavam felizes ao meu redor, por que “eu tinha tomado jeito.” Eu não estava feliz em ser outra pessoa.



Dentro de mim borbulhavam dúvidas, e passei muito tempo sendo normal. A infelicidade me consumiu por completo, quase me matou… Começaram a perceber que algo estava estranho, e de louco passei a ser depressivo. Sentiram pena de mim, mas, ao menos a depressão era normal.



Fiquei mal muito mal… O tempo seguia sem esperança alguma pra mim… As pessoas continuavam me tachando, decidindo por mim… Me olhei no espelho e assustei com o que vi: Eu não tinha mais vida.



A normalidade tentou me matar, como fez como todos que eu conhecia, e como matou tantos em guerras. Resolvi que era hora de dar um basta.



BASTA!



E quando todos acharam que eu finalmente seria normal, as portas dos mundos foram arrombadas de tal forma, que uma explosão me inundou com tudo aquilo que eu havia perdido durante todos os anos que passei acorrentado ao solo.



As pessoas me olharam com pena, rejeição, medo… E eu olhei a todos sorrindo. Minha felicidade estava de volta, e eu podia viajar de novo, para onde eu quisesse. Eu havia redescoberto que era escritor. Redescoberto que eu era um viajante.



Viajei para nunca mais voltar, e até hoje continuo em minhas andanças, de lá pra cá, de cá pra lá.



Aos senhores pais, não prendam seus filhos em gaiolas, torturados por tecnologia que os escraviza ou por conceitos que os acorrentam. Deixem que eles vivam, que viajem, e que sejam pequenos loucos felizes. Não tenham medo se eles forem estranhos, desde que eles sejam felizes.



Aos irmãos e amigos, não tenham vergonha se os viajantes parecem malucos, ou se as vezes eles parecem desligados. Somos assim mesmo, transitamos por entre mundos com a mesma facilidade que se dá um passo, mas isso não quer dizer que somos antipáticos, apenas vivemos ao nosso modo.



Ao mundo, esse físico, saiba que você continua sendo meu maior inimigo. Suas guerras tolas, sua violência, sua rigidez… Eu lhe venço a cada dia, por que você não é pário para os mundos que eu conheço.



A você, leitor, saiba que o céu é o limite, se permita viajar, e não tenha medo se me ver por aí em algum mundo, eu sou assim mesmo. Sonhe! Um dia nos encontramos por aí.

Créditos da imagem: Freepik


You may also like

Nenhum comentário:

Todos os direitos reservados. Tecnologia do Blogger.